Vamos ser sinceros por aqui, ok? Essa história de que o peixe maior sempre escapa, já virou lenda né? É uma velha desculpa para contar para os amigos quando não pega o peixe, ou para dizer que aquele que escapou e você não viu, mas tem certeza que era de tamanho jurássico lamentavelmente escapou. Isso é apenas desculpas e você sabe né?
Contra fatos não tem argumentos. O peixe escapa e deu! Ele ganha a briga muitas vezes, é uma briga lembra? Mas, confesso que são esses quase momentos, “o quase peguei, quase consegui embarcar para fazer uma foto”, que são os momentos que mais marcam, e que muitas vezes dependendo do tamanho da luta, mais lamentamos.
Vou te contar uma história que aconteceu recentemente comigo…
Estava viajando pela Argentina, e em um dos locais que fui gravar a pesca estava um pouco dura. Natureza é assim…Na verdade, a ideia era pegar os grandes como o surubim, e sabemos que esses gigantes não saem fácil ou rápido como se espera…
Depois de dois dias fazendo trolling ou corrico, o peixe finalmente apareceu. Uma briga de 15 a 20 minutos. No início parecia leve, não levava fé que era um pintado. O barco ia ajudando, conduzindo a favor do peixe, seguindo as orientações do guia para manter a linha esticada. Não sei por onde foi pego, eu não o vi, e tampouco posso afirmar o tamanho que tinha.
Talvez 20, 30, 50 quilos…nem ideia…como eu disse, eu não o vi…e na água as coisas têm um peso diferente…
O fato é que quando faltava uns três metros de linha para recolher, ele simplesmente tomou fôlego, tomou linha e se foi…Eu fiquei em choque! Sabe quanto custa pegar esse peixe? Sabe quantos hematomas tive por ficar segurando a vara no corrico por horas e horas e depois mais a briga?
Foi uma mistura de sentimentos tão grande que fiquei muito brava… Brava por todo esforço que tive que fazer, brava porque o peixe escapou faltando apenas uns três metros de linha, brava porque com isso iria atrasar as gravações de outras coisas do programa que compõe a maior parte do episódio, brava pelo peixe ter me iludido.
Demorei pra superar…e sabe por quê? Porque esse foi um quase peixe. Um quase momento…os “quases” costumam lembrar e doer mais do que os realizados, porque ali carrega o peso do que poderia ter sido. Carrega o “E se…”
Depois disso, de refletir sobre…pensei…bom, já que a natureza me ganhou…vou fazer com que a história seja diferente…(confesso que enquanto escrevo esse texto ainda não superei tá?, mas temos que ser criativos e utilizar esse fato de outra forma).
Às vezes a natureza me obriga a forçar minha criatividade…Até porque existe um outro lado do “quase”. Além de carregar o peso do que poderia ter sido, também carrega a beleza e a leveza do que ainda pode ser…
E é nessa poesia silenciosa que mora a esperança de que o melhor está por vir…
E sempre vem…
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