Mate, doce de leite e outras “tretas” culturais do Cone Sul

Uma viagem por sabores, disputas e tradições, com pitadas de pesca esportiva e identidade.

Por Laís Vanessa - 24/04/2025 em Notícias / Turismo

Viajar é cruzar fronteiras geográficas, culturais e até emocionais. E tem certas fronteiras que não se atravessam com passaporte, mas com paladar. Porque no Cone Sul, a verdadeira diplomacia está na mesa. Ou melhor: na cuia, no pote de doce de leite e no papel que embrulha um alfajor.
E aí começam as perguntas…quem inventou o mate? É do Sul do Brasil? Do Paraguai? Da Argentina? Ou do Uruguai?


Recentemente, para quem acompanha a Fórmula 01, uma polêmica envolvendo o piloto reserva da Alpine, Franco Colapinto da Argentina, gerou burburinhos nas redes sociais, quando ele falou em tom de brincadeira, que o Uruguai não havia criado nada, que a origem era toda Argentina e que Uruguai era como uma província da Argentina.


Obviamente que o comentário não caiu bem para a população Uruguaia. (Ele se retratou depois, mas…sabe como é). Enfim, quando vi isso, pensei, porque não explorar esse tema que muitas vezes gera tantas controvérsias culturais. E, lá fui eu trazer um pouco de história aqui para vocês.


A ideia aqui não é gerar polêmica e sim um esclarecimento dos fatos, ok?


Bom, historicamente, o mate, ou chimarrão, tem origem indígena. Os povos guarani já utilizavam a erva-mate muito antes da chegada dos europeus. O Paraguai foi o primeiro território a registrar o uso difundido da bebida, que depois se espalhou por todo o sul da América Latina. Ou seja: a briga é boa, mas a raiz é guarani. É de todos e de lugar nenhum ao mesmo tempo. O mate é um elo cultural que une fronteiras.


Já o doce de leite também tem sua cota de polêmica açucarada. Os argentinos juram que nasceu por lá. Em 1829, numa história quase acidental: um ajudante de cozinha teria deixado o leite com açúcar no fogo por tempo demais enquanto preparava uma “lechada”.


Os uruguaios, por sua vez, reivindicam a receita como sua, dizendo que já era comum muito antes. E o Brasil? Tem o seu próprio ícone: o mumu, símbolo afetivo do Sul, que adoçou gerações. Mas, segundo registros históricos, os árabes já preparavam algo parecido séculos atrás, o que mostra que talvez a verdadeira origem seja ainda mais antiga e global.


E o alfajor? Ah, esse tem berço espanhol. Veio dos árabes, atravessou o Mediterrâneo e chegou à América do Sul pelas mãos dos colonizadores. Mas foi aqui, no nosso continente, que ele ganhou identidade própria.



Na Argentina e no Uruguai, o alfajor virou patrimônio nacional, e aí, sim, a disputa esquenta. Os argentinos industrializaram, exportaram e transformaram o alfajor em um símbolo quase tão forte quanto o tango ou a camiseta da seleção.


Já os uruguaios defendem um alfajor mais artesanal, tradicional, com camadas generosas de doce de leite e um toque de casa de vó. Ambos têm razão. Ambos têm orgulho. Mas experimente entrar nessa conversa em um bar de Montevidéu ou em uma cafeteria de Buenos Aires… e prepare-se para ver olhos brilhando, argumentos históricos e até testes de sabor na mesa.


Como exploradora do mundo, com vara na mão e pés no chão, gosto de pescar mais do que peixes. Pesco histórias, sabores e símbolos que ajudam a entender a alma de cada lugar. Porque a cultura se revela no detalhe: no jeito de servir uma bebida, no orgulho com que se fala de uma receita, na brincadeira sobre quem inventou o quê.


E quer saber? Talvez o mais importante nem seja quem inventou o mate, o doce de leite ou o alfajor. Mas sim, como cada um desses elementos nos conecta com o território, com as pessoas e com a memória afetiva.


Porque entre uma pescaria no Pantanal, uma taça de vinho na Argentina e um café no mercado de Montevidéu, o que fica mesmo... é o sabor da experiência.




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