A França investiu mais de 1,4 bilhão de euros (cerca de R$8 bilhões) para a despoluição do Rio Sena, rio que banha a capital Paris e que deságua no Oceano Atlântico.
Porém, mesmo após todos os trabalhos realizados e o anúncio que o rio já estaria limpo, no dia 17 de julho deste ano, as competições de natação dos Jogos Olímpicos foram fortemente impactadas pela má qualidade da água.
Jogos de Paris estão sofrendo com a qualidade do Rio Sena. Foto: REUTERS / Porischka Von De Wouw.
Nesta semana, a atleta belga Claire Michel, hospitalizada após nadar no rio, divulgou sua desistência da prova de triatlo misto. A atleta acabou contraindo a bactéria Escherichia coli, que faz parte da microbiota intestinal, podendo causar problemas sérios, como infecções digestivas.
Porém, ao contrário do que muitos podem pensar, a poluição do Rio Sena não é recente. Nadar no rio era proibido desde 1923, devido aos riscos para a saúde. Com a primeira restrição, os nadadores dos Jogos Olímpicos de 1924 tiveram que realizar as suas provas, exclusivamente, em piscinas.
Rio já sofre com poluição há mais de um século. Foto: Keystone France / Gamma Rapho.
Desde esse período, há cerca de um século, a maior parte dos esgotos da cidade é despejada no Sena. Hoje, as principais fontes de poluição do rio vêm de vazamentos e transbordamentos dos sistemas de esgoto.
Um caso que também chamou muito a atenção foi da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que nadou no Rio Sena, no início de julho, para mostrar que o rio já estava limpo. A atitude, porém, não repercutiu como o esperado e atletas continuaram se contaminando com a bactéria.
Prefeita de Paris nada no Sena para mostrar a qualidade da água. Foto: Julien de Rosa / AFP.
Até mesmo o contato da boca com a água contaminada, com altos níveis de patógenos, pode resultar em diarreia, infecções do trato urinário, pneumonia, sepse, erupções cutâneas e dores de ouvido ou nos olhos. Outras bactérias também podem se mostrar presentes, como a Leptospira, transmitida pela urina de rato, cianobactérias e enterococos, sem contar os parasitas e larvas.
Como o rio foi liberado para a natação?
Prefeitura anunciou liberação, mesmo com qualidade duvidosa das águas. Foto: Reprodução / Taquiprati.
No dia 9 de julho deste ano, a prefeitura de Paris anunciou que o Rio Sena seria liberado para natação até 2025. A administração informou que as análises da qualidade da água afirmaram que os níveis eram considerados “suficientes” ou “excelentes” em períodos de clima seco, e que as estações de tratamento de esgoto estavam sendo modernizadas ou reconstruídas.
Na época, foi dito que os três maiores desafios eram o redirecionamento da água e do esgoto (mesmo que ainda vinha sendo despejada no Sena), a melhora da eficiência das estações de tratamento e o combate à poluição gerada pelo tráfego fluvial, incluindo embarcações de turismo e transporte de pessoas e mercadorias.
Com os estudos realizados na época e com o grande valor investido, a liberação do rio para natação acabou saindo. Hoje, vimos que não adiantou muito.
Como um rio tão importante chegou a esse estágio?
Rio Sena é de grande extensão e muito importante para a Europa. Foto: Keystone France / Gamma Rapho.
O Rio Sena é um grande curso d’água, com 776km de extensão, com uma pequena parte cortando a capital Paris. Ele nasce a 470 metros de altitude e deságua no canal da Mancha, braço de mar que faz parte do Oceano Atlântico, que separa a ilha da Grã-Bretanha do norte da França.
Sempre foi um rio muito rico, com diversas espécies de peixes, com destaque para o bagre, a carpa, o perch, a truta, a perca e o robalo. No ano de 2009, até mesmo o Salmão do Atlântico havia retornado ao rio, mesmo com a grande poluição das águas.
Porém, apesar das 35 espécies aproximadas que o rio contém, esse número já beirou o desespero: em 1960, por conta da poluição, apenas três espécies de peixes eram registradas na parte urbana do rio.
A poluição do Sena está associada ao esgoto, à agricultura e às águas de chuva, que transportam poluentes das áreas urbanas para o leito do rio, o que o torna o mais poluído da Europa por bifenilpoliclorado, e essa poluição se estende até a baía do Sena.
Como evitar que nossos rios cheguem a esse nível?
Poluição do Rio Sena deve ser exemplo negativo, para que os rios brasileiros não sofram com a mesma situação. Foto: Helena Petry / COB.
Para evitar que os rios brasileiros atinjam níveis críticos de poluição semelhantes aos do Rio Sena, podemos aprender com os erros observados lá e adotar várias estratégias.
Primeiro, é essencial promover campanhas de educação ambiental para conscientizar a população sobre o impacto da poluição e a importância da conservação dos recursos hídricos, pensando no melhor para as espécies de peixes e a natureza.
Além disso, devemos implementar e fazer cumprir regulamentações rigorosas sobre o descarte de poluentes, garantindo que a legislação ambiental seja adequada e atualizada. Investir na modernização e expansão das estações de tratamento de esgoto é crucial para assegurar que a água residual seja tratada de forma eficaz antes de ser devolvida aos corpos d'água.
Outro aspecto importante é o desenvolvimento de sistemas de drenagem urbana eficientes, que controlam e tratam as águas de chuva para minimizar o transporte de poluentes para os rios.
Também é necessário adotar práticas agrícolas sustentáveis que reduzam a quantidade de poluentes, como fertilizantes e pesticidas, que podem ser lavados para os corpos d'água, além de incentivar a construção de zonas de proteção ao redor dos rios.
Poluição do Rio Sena chama a atenção em alguns locais. Foto: Hugo Lobão / Itatiaia.
A fiscalização e o monitoramento contínuo da qualidade da água são fundamentais para identificar e corrigir fontes de poluição de maneira rápida. Engajar as comunidades locais em projetos de limpeza e conservação dos rios também pode promover a participação ativa na proteção dos nossos recursos.
Por fim, investir em programas de restauração ecológica ajudará a recuperar áreas degradadas e melhorar a saúde geral dos ecossistemas aquáticos.
Adotando medidas simples, a longo prazo, podemos proteger nossos rios, fortemente, garantindo a sua saúde para as gerações futuras.
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