Peixes desaparecem do Rio Uatumã após construção de hidrelétricas, aponta pesquisa no AM

Estudo revela extinção de espécies nativas e alerta para graves impactos ambientais nas águas da região.

Por Marcelo Telles - 18/01/2025 em Notícias / Meio Ambiente

Um estudo realizado no Amazonas revelou uma drástica diminuição de espécies de peixes no Rio Uatumã, um dos principais afluentes do Rio Amazonas, após a construção das hidrelétricas de Balbina e Pitinga, há mais de 35 anos.


A pesquisa, coordenada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e das Universidades do Estado do Amazonas (UEA) e Federal do Pará (UFPA), aponta a extinção local de várias espécies antes comuns na região e ameaça à preservação da biodiversidade aquática.



Desaparecimento de espécies em perigo

Foto: Leandro Sousa.


Durante a década de 1980, o Rio Uatumã era lar de diversas espécies de peixes, muitas delas endêmicas e ameaçadas de extinção.


Entre elas, o Badi, um pacu adaptado a viver em águas com correnteza, era uma das mais abundantes nas cachoeiras do rio. No entanto, após a construção das hidrelétricas, essas espécies começaram a desaparecer, com a última evidência do Badi datando de antes das barragens.


De acordo com o portal G1, Douglas Bastos, pesquisador envolvido na pesquisa, destacou que o sumiço dessa espécie é um "indicativo claro do impacto devastador" da usina de Balbina, que mudou a dinâmica do ecossistema local.



Impactos visíveis e preocupantes

Foto: Leandro Sousa.


O estudo de campo, realizado em novembro de 2023, mostrou que, apesar de uma intensa expedição de cinco dias e mais de 20 horas de mergulho, os peixes ameaçados não foram encontrados na área abaixo da usina de Balbina.


Especialistas dizem que o impacto das hidrelétricas afeta a fauna local e os habitantes da região, que enfrentam mudanças nas condições de vida devido à alteração no ambiente.



Buscando alternativas: o Jatapu e a esperança

Foto: William Roth / Divulgação Governo de RR.


Ainda assim, nem tudo está perdido. Na segunda fase do estudo, realizada em outubro de 2024, os pesquisadores examinaram outros afluentes da região, como o Rio Jatapu, para avaliar se os peixes que desapareceram do Uatumã ainda poderiam ser encontrados em outros lugares.


Para a surpresa da equipe, algumas espécies que já haviam sido registradas no Uatumã nas décadas passadas, como o sarapó (Apteronotus lindalvae) e o bodó (Harttia uatumensis), foram encontradas no Jatapu, um afluente maior e ainda preservado. Esse achado oferece uma luz no fim do túnel para os defensores da biodiversidade. 



O dilema das hidrelétricas na Amazônia

Foto: Leandro Sousa.


A construção de grandes hidrelétricas, como a de Balbina, tem sido um tema controverso desde o início. Embora essenciais para a geração de energia, essas obras trazem consigo impactos ambientais significativos, especialmente em regiões ecologicamente sensíveis como a Amazônia.


Estudos como o realizado pela equipe da Fapeam e parceiros são fundamentais para entender e diminuir os efeitos dessas obras, além de propor alternativas para a preservação de espécies ameaçadas.


De acordo com a pesquisa, as mudanças no ecossistema vão além da fauna aquática, afetando toda a biodiversidade da região e até os modos de vida das populações locais.



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