Manchas de óleo nas praias do nordeste ameaçam tartarugas, aves e peixes

Os compostos, altamente tóxicos, já atingiram 2.000 km da costa nordestina

Por Victória Netto - 17/10/2019 em Notícias / Meio Ambiente - atualizado em 06/11/2019 as 12:00

O vazamento de petróleo que desde 30 de agosto vem se espalhando pelo litoral do nordeste brasileiro já causa prejuízos diretos às espécies e ecossistemas marinhos. Avaliado como o maior desastre ambiental da região, 166 localidades foram contaminadas em nove estados do país.

O óleo, cuja origem foi atribuída à Venezuela após análises da Petrobras e das universidades federais da Bahia e do Sergipe, ganhou notificação de alerta ambiental pelo Ibama no começo de setembro. De lá para cá, a mancha se espalhou e atingiu mais de 2.000 km da costa nordestina, afetando o Rio Grande do Norte, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Paraíba, Maranhão, Ceará e Piauí.

Embora os impactos sobre as pessoas que vivem nessas áreas seja uma preocupação, quem mais tem sofrido os danos do óleo são os animais, principalmente peixes, aves e tartarugas-marinhas, espécie ameaçada de extinção.

O Projeto Tamar, por exemplo, deixou de lançar mais de 800 tartarugas nas praias do Sergipe e, pela primeira vez, fez a operação em alto mar. Os biólogos navegaram 30 km para soltar os animais longe da contaminação por petróleo.

Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos sobre Poluição e Ecotoxicologia Aquática da Unesp, Denis Abessa, esses óleos, compostos de misturas complexas de hidrocarbonetos, são altamente tóxicos. “Os efeitos do óleo são severos, causam mortalidade no curto prazo, tanto pela intoxicação quanto pelo recobrimento da pele”, explica Abessa. 

No Centro de Descontaminação de Fauna Oleada da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), em Mossoró, que é a única estrutura completa de recuperação dos animais afetados, apenas duas das 23 tartarugas-marinhas encontradas até o momento seguem com vida.

Foto: Reprodução/Diário de Pernambuco

No litoral norte de Alagoas, o maior estuário de peixes-boi do país também foi afetado pela mancha de petróleo. Lá, vivem 37 animais.

Esse óleo pesado tende a “colar” na pele, principalmente dos animais aquáticos que usam a superfície para respirar ou trocar nutrientes com o meio, já que ficam mais expostos à substância.

No caso das aves, o óleo afeta o sistema de impermeabilização que elas têm nas penas. Por isso, perdem calor rapidamente, e o peso do composto no corpo faz com que elas não consigam mais voar, causando intoxicação e hipotermia.


Quais os impactos a longo prazo?

Conforme a professora do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos (PPG-ECOMAR) da Universidade Santa Cecília/SP, Luciane Alves Maranho, o impacto mais agudo da contaminação pelo óleo é a mortalidade. 

"Notamos isso nos animais maiores, porém os mais afetados são os microrganismos, como os organismos planctônicos, e as fases mais juvenis de vida marinha, que servem de base para a cadeia trófica”, indica.

Isso significa que haverá impactos a longo prazo, tanto pela abrangência da área atingida quanto pela importância dos ecossistemas afetados –  recifes de coral, manguezais, estuários e praias arenosas. 

Ainda assim, esses efeitos só poderão ser mensurados depois de estudos completos abrangendo toda a região implicada no vazamento.

O que se sabe é que, com o tempo, o óleo emulsifica e forma o piche, uma mistura de hidrocarbonetos mais pesados. Esse novo composto interage com a matéria orgânica presente nas areias, podendo intoxicar as espécies de organismos associadas ao fundo marinho.


Foto: Divulgação/Pixabay

“Esse episódio serve para lembrar que a atividade petrolífera no mar pode de fato impactar a zona costeira, mesmo quando acontece muito longe da costa”, observa o especialista e professor da Unesp, Denis Abessa.

Para ele, fica o alerta sobre a importância do cumprimento das normas técnicas elaboradas pelas autoridades competentes, pensadas para evitar acontecimentos como esse.

*Foto capa: Reprodução/O Globo

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