Após 14 dias do rompimento da barragem em Brumadinho, a
cidade mineira continua lidando com os impactos causados pelo desastre.
Enquanto as operações de resgate seguem na região, a lama de rejeitos de
minério avança pelos rios locais, prejudicando a biodiversidade e quem depende
dos cursos de águas para sobreviver.
Mais afetado pelo lodo contaminado, o rio Paraopeba segue
sendo analisado para se ter dimensão do estrago feito em seu leito,
principalmente no trecho até a usina termelétrica de Igarapé. Ali, análises são
feitas com frequência por conta da grande turbidez das águas e dos peixes
mortos que são encontrados em maior quantidade nesse trecho.
A bacia do Paraopeba recebe uma grande diversidade de peixes que são da bacia do rio São Francisco. A região de Córrego do Feijão é um local com muitos peixes endêmicos, sendo essa a primeira fauna afetada pelos rejeitos. De acordo com o biólogo especialista em ictiofauna, Dr. Wagner Martins Sampaio, como esse é um período de piracema, as migrações reprodutivas serão afetadas, assim como o ecossistema local. “À medida que essa lama vá se espalhando ao longo do rio Paraopeba, a biota aquática vai ser muito afetada, justamente por essas alterações provocadas no ecossistema aquático. Do ponto de vista físico-químico, ele (lamaçal) afeta a composição de toda biota aquática, como fitoplânctons, zooplâncton, e isso atinge a fauna de peixes do rio, e as espécies endêmicas são as mais afetadas”, descreve.
Extinção de espécies
não está descartada
Como os peixes são alguns dos bioindicadores, é possível monitorar a alteração do curso da água. Há chances de algumas espécies desaparecerem, principalmente as endêmicas, que são mais sensíveis e precisam de um ambiente preservado para existirem. “O alto rio São Francisco, o alto rio das Velhas e o alto Paraopeba estão rodeados de empreendimentos minerários que colocam essa diversidade em risco, e essa é uma região com alto índice de endemismo. Essas são consideradas áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade aquática”, conta Sampaio.
Os próximos passos
O biólogo Wagner Sampaio descreveu o que é preciso ser feito após um acontecimento como o do rompimento da barragem. “Primeiro se inicia o monitoramento da qualidade das águas nas áreas de influência do ‘desastre’ e, assim que possível, começar os resgates de fauna e flora. Posteriormente, com grupo gestor definido, temos que entender como a lama vai influenciar na biota, em especial a aquática. Será preciso elaborar Termos de Referência para que todos os estudos a serem realizados sigam uma condição mínima de qualidade técnica e, o principal, que respondam de forma eficiente os questionamentos sobre o comportamento da biodiversidade local após o ‘desastre’, para que de fato sejam elaboradas estratégias eficientes para conservação da biodiversidade”.
Foto em destaque: Cadu Rolim/Fotoarena/Folhapress
Foto interna: Fábio Barros/Estadão Conteúdo
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