Entenda o que é preciso para realizar a soltura de alevinos

Pesquisador conta os diferentes detalhes que precisam ser levados em conta

Por Alison Mota - 16/04/2021 em Notícias / Meio Ambiente - atualizado em 19/04/2021 as 14:30

Na pesca esportiva se aprende logo cedo que, para que o esporte tenha longevidade, é preciso preservar o meio ambiente. Esse cuidado com a natureza é passado de adultos para crianças e se perpetua, com diferentes esforços sendo feitos em prol da causa da preservação. Em muitos casos, a ideia que vem à mente de muitos é realizar a soltura de alevinos para povoar os rios frequentados, mas essa ação é muito mais complexa do que apenas liberar os filhotes de peixes no ambiente natural.

Buscando esclarecer o assunto e as dúvidas que surgem, Guilherme Souza, doutor em ecologia e recursos naturais e biólogo do Projeto Piabanha, falou sobre o tema com nossa equipe de jornalismo. Segundo ele, há situações que o repovoamento de peixes pode existir, seja porque uma região recebeu uma represa, por exemplo, o que muda o comportamento das espécies rio acima e abaixo, e também no caso de desastres ambientais que afetam cursos de águas, como despejo irregular de resíduos químicos, diminuindo ou eliminando as espécies. Havendo a recuperação do rio, é possível desenvolver um trabalho de recuperação das espécies atingidas.

Souza denomina a inserção das espécies nas águas como “dar um empurrão” para que os exemplares ameaçados de extinção possam ampliar suas populações. Mas, é preciso estar atento a um detalhe importante do processo. “A espécie trabalhada precisa estar contemplada em um Plano de Ação Nacional, que é uma política pública do Ministério do Meio Ambiente, estando relacionada às espécies ameaçadas. Sendo assim, um grupo de trabalho técnico é formado com o objetivo de determinar como, quando e com qual saúde genética os peixes serão introduzidos”, destaca.

Com esse panorama posto, Souza destaca que, a partir do Plano de Ação Nacional, é preciso pensar em um banco genético vivo, algo como um zoológico de peixes que foram capturados em diversos pontos da bacia hidrográfica de origem das espécies trabalhadas. “Em um primeiro momento, o peixe ficará em quarentena por ter saído do ambiente natural e ser levado para um artificial. Estando em bom estado de saúde, introduzimos um microchip no dorso do animal, cujo objetivo será identificá-lo dentro da população em cativeiro. Um pequeno pedaço da nadadeira caudal é retirado e enviado para estudos, servindo de base para uma matriz de cruzamentos que mostrará ao projeto idealizador quais os melhores cruzamentos a serem feitos para que se obtenham filhotes com maior saúde genética e só assim liberá-los no rio”, explica.

Foto: Projeto Piabanha

Após todos os complexos processos descritos, ainda é preciso solicitar permissão ao órgão fiscalizador responsável, no caso o IBAMA, para que ele conceda uma licença para tal atividade. 

O biólogo e apresentador do programa Biopesca, Lawrence Ikeda, vive o universo da pesca esportiva e também defende que é preciso ouvir a ciência e estar atento a legislação. “Ressalto e destaco a importância de estudos científicos e a obediência às leis ambientais. A minha orientação para os pescadores é valorizar cada vez mais as espécies nativas da sua região e, caso pense em tomar alguma inciativa relacionada a soltura de peixes para repovoamento, consultar especialistas e os órgãos ambientais”, complementa.

Então, pescadores, continuem defendendo o nosso meio ambiente de forma responsável e segura. Você pode conhecer mais sobre o trabalho de Guilherme Souza no Projeto Piabanha, que trabalha diretamente com os processos de reintrodução de peixes em ambientes naturais.

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