Toda semana, recebemos sugestões de pautas dos espectadores da Fish TV. Uma, em especial, nos chamou a atenção: era um vídeo que mostrava a pequena Isadora em um barco preocupada com o lixo que ela estava vendo em volta. Além de recolher alguns resíduos, ela dá uma boa lição para a sociedade:
Inspirados no vídeo que o pai da Isadora enviou para o Jornalismo da
Fish TV, fomos atrás de pesquisadores para conversar sobre o problema do lixo
nas águas. Entrevistamos a professora Maira Carneiro Proietti, do Laboratório de
Ecologia Molecular Marinha do Instituto de Oceanografia, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Confira trechos do bate-papo:
Fish TV - Em todo
o mundo é observado que os plásticos predominam o lixo encontrado em linhas de
costa, no fundo e superfície dos oceanos. Por que esse resíduo é o mais
encontrado?
Prof. Maira -
Isso acontece devido ao baixo custo de produção, durabilidade e versatilidade
dos plásticos. A produção e, consequente, descarte tem aumentado
exponencialmente e esse material pode compor até 99% dos resíduos encontrados.
Os plásticos entram no oceano direta ou indiretamente através de vias
continentais e marinhas.
Estima-se que cerca de 80% do lixo que entra no
ambiente marinho vem de fontes continentais, devido à má gestão de resíduos,
uso recreativo de praias e disposição acidental ou intencional em terra com
posterior transporte por sistemas de drenagem para o mar. Fontes de lixo no
oceano incluem petrechos de pesca abandonados, perdidos ou descartados,
operações offshore, perdas de carga e resíduos gerais de embarcações.
Fish TV - Quais principais
prejuízo que os animais que ingerem plástico podem ter?
Prof. Maira -
Os plásticos no mar podem causar diversos impactos. Os mais visíveis são
aqueles que afetam fisicamente a fauna marinha, como enredamento e
emaranhamento em petrechos perdidos ou descartados (conhecido como pesca
fantasma). Essa pesca fantasma pode causar lesões, perda de mobilidade,
asfixia, afogamento e morte.
Fish TV - A ingestão de
plástico já foi registrada por várias espécies?
Prof. Maira -
Já foi registrada para centenas de espécies, desde pequenos organismos
do zooplâncton, invertebrados como moluscos e crustáceos, peixes, aves,
tartarugas e até o maior animal do mundo: a baleia-azul. Essa ingestão pode
levar ao bloqueio ou lesão do trato digestivo, sensação de saciedade sem
alimento, alterações de flutuabilidade e comportamento, e acarretam muitas
vezes na morte dos indivíduos.
Efeitos indiretos incluem potencial acúmulo de
compostos tóxicos (usados na fabricação dos produtos plásticos e/ou adsorvidos
a eles do ambiente) nos tecidos dos consumidores e sua transferência entre
níveis tróficos, impactando teias alimentares.
Fish TV - Em uma das pesquisas, vocês
trabalharam com microplásticos ingeridos por crustáceos (camarão-rosa e
siri-azul) do Estuário da Lagoa dos Patos (RS) e na área da Praia do Cassino,
no extremo sul do Brasil. Quais foram os principais resultados da
pesquisa?
Prof. Maira - Os
microplásticos são aqueles com tamanho entre 0.001 e 5mm, que podem ser
produzidos já nesse pequeno tamanho ou resultarem da quebra de plásticos
maiores.
Avaliamos os tratos digestórios de 110 camarões
rosa e 132 siris-azuis, com presença de microplástico em aproximadamente 33% dos
camarões e siris. Os principais tipos de microplásticos encontrados nos animais
foram as linhas e fios.
Essas informações ajudam a entender o problema para
subsidiar ações de prevenção e mitigação, identificando suas possíveis fontes e
auxiliando no direcionamento de estratégias. É importante que nós como
sociedade tenhamos conhecimento dos impactos do lixo plástico no oceano para
repensarmos o nosso consumo, lembrando do alimento mais seguro oriundo da
aquicultura, e cobrarmos medidas efetivas do poder público.
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