O ano era 2015. Dia 5 de novembro. Uma tarde comum em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, cidade mineira turística e que também vive da extração de minério. E foram justamente os rejeitos da mineração de ferro, somados a lama, que invadiram o distrito naquele dia, mudando para sempre a rotina dos moradores e colocando o nome da cidade em destaque no país, mas por um triste motivo. O povoado foi completamente destruído pelos mais de 60 milhões de metros cúbicos do material vazado, deixando o lugar submerso em uma espessa camada de lama que tirou a vida de pessoas e do rio.
Entre as tantas ações criadas após o desastre, um projeto de análise do impacto social em comunidades ribeirinhas do baixo rio Doce se desdobrou de várias frentes. Uma delas é uma série de ilustrações que compõem o livro "Traços de Um Rio: Caderno de Viagem", feitas pelo artista Artur Sgambatti Monteiro, que nos cedeu uma breve entrevista falando sobre como foi fazer esse trabalho. Confira:
Fish TV - A tragédia de Mariana deixou o país inteiro espantado, mas o que te motivou a dedicar um projeto sobre o ocorrido?
Artur - O livro é um diário de viagem meu, com colaboração de Vladimir Ospina Rodriguez, que reúne as ilustrações, também. Em 2015, eu havia feito uma viagem de moto do Rio de Janeiro e passei pelo interior mineiro uns três meses antes do acidente. Quando soube do desastre fiquei relembrando meu período em Minas Gerais e aquilo mexeu comigo, por ter me lembrado do que vi e vivi lá. Era uma cidade histórica e que fazia parte do roteiro turístico mineiro, e aquilo me impactou. Eu tinha um desenho que havia feito do rio Gualaxo, que tinha até mesmo uma pequena ponte construída no século XVIII, pois era uma região muito preservada. E foi justamente por esse rio que todos os rejeitos foram dispersos. Olhar para aquele desenho de como tudo era antes me impactou.
Fish TV - Como iniciou o seu trabalho em conjunto com outros pesquisadores?
Artur - Como eu estava em um período entre empregos pude fazer contato com diversas ONGs que trabalhassem com o rio Doce, e comecei a ver um jeito de ir para lá, de como ajudar. Foi aí que consegui o contato de uma professora que fazia mestrado na federal do Espírito Santo, que precisava de alguém que pudesse pagar para viajar, porque a universidade estava fazendo um levantamento de impacto social pelo Laboratório de Estudos Migratórios. Juntando meu desejo de ajudar com a necessidade deles, viajei em janeiro de 2016. Foi muito marcante, pois nos deslocávamos pela beira do rio, entrevistando o maior número de pessoas possível, conhecendo as histórias dos moradores da região, e aproveitava para registrar os momentos com desenhos.
Fish TV - O que mais planeja para esse seu projeto, além do livro?
Artur - Eu já submeti alguns projetos, como Lei Rouanet de Incentivo a Cultura de Minas Gerais e do Espírito Santo. Meu sonho é que o filme ilustrado fique pronto e que eu consiga voltar com ele para a região do rio Doce em algum momento, podendo distribuir os livros. Esse é um projeto bastante forte nosso, e quando falo nosso é porque não sou apenas eu. Existem pessoas envolvidas no filme, o Vladimir Ospina que colabora comigo na publicação, e mais muitas outras pessoas trabalhando na ideia desse sonho.
Se interessou pelo trabalho? Você pode adquiri-lo clicando aqui. Aproveite e assista abaixo ao teaser do futuro filme sobre esse projeto.