Como o inverno de 2021 afetou os pesqueiros do país?

No último dia do inverno, balanço mostra que frio intenso causou grandes perdas e prejuízos

Por Marcelo Telles - 21/09/2021 em Notícias / Meio Ambiente

Como dito por muitos, 2021 está sendo um ano que vem nos surpreendendo, em vários aspectos diferentes. Com as extremas temperaturas durante as estações do ano, isso também aconteceu.

Hoje, dia 21 de setembro, é o último dia do inverno. A nossa primavera chega prometendo temperaturas agradáveis e belas paisagens, como já é de costume.

Mas para muitos, o inverno vai embora com um grande sentimento de tristeza. Infelizmente, vários proprietários de pesqueiros no nosso país tiveram grandes perdas em seus exemplares, causadas pelas baixas temperaturas.

Não só os pesqueiros, mas os criadores, propriedades de lazer e clubes que estão dentro desse setor, sentiram o impacto.

Lago congelado em Santa Catarina em 2021Lago congelado em Santa Catarina em 2021 — Foto: Mycchel Legnaghi/ São Joaquim Online 

Para entender o estrago causado, é preciso que se tenha conhecimento a respeito de como a estação mais gelada do ano impacta o território brasileiro.

Em várias regiões do Norte e Nordeste, o inverno chega reduzindo as chuvas, mas alterando pouco na questão de temperatura. 

Já nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, o inverno chega causando noites com baixas temperaturas e altas taxas de evaporação, deixando o solo mais seco. Em alguns estados pode, até mesmo, acontecer o fenômeno da geada.

Na região sul, o inverno chega com fortes chuvas que não duram muito. Porém, após as chuvas, o ar frio e seco predomina, fazendo com que a região permaneça com temperaturas extremamente baixas, até mesmo em dias de sol. Em vários casos em 2021, tivemos até a presença de neve caindo na região.

Locais ficaram quase congelados durante o inverno brasileiro de 2021Locais ficaram quase congelados durante o inverno brasileiro de 2021 — Foto: Ronaldo Gomes EPTV

E como a pesca esportiva, principalmente em pesqueiros, é um esporte que está totalmente ligado à temperatura, os termômetros abaixo do normal tiveram consequências.

Ou seja, com as águas estando com temperaturas muito abaixo do esperado, espécies comuns em pesqueiros e não tão acostumadas com a presença do frio extremo, como tambaqui, pirarara e matrinxã, acabaram sofrendo.

Muitos desses casos aconteceram em 2021 com os pesqueiros do nosso território. Hoje, com a temperatura mais elevada, os proprietários desses locais estão lutando para tentar tirar o prejuízo.

Para Fábio Mori, zootecnista do Campeonato Brasileiro em Pesqueiros, o CBP da Fish TV, o inverno é sempre uma fase difícil para os pesqueiros, visto que é um período onde os animais não se alimentam tanto como de costume.

Fábio comenta que a mortalidade foi geral e o frio atingiu as espécies mais sensíveis e mediante sensíveis, com mortalidades significativas desde o estado do Rio Grande do Sul até o Mato Grosso do Sul.

"No inverno, o metabolismo dos peixes baixa, pois eles são animais pecilotérmicos, ou seja, de sangue frio, que ajustam a sua temperatura corporal de acordo com a temperatura da água. Dessa forma, com baixas temperaturas, o peixe nada e come menos, reduz os batimentos cardíacos e perde toda a atividade, ficando praticamente parado", comenta.

Lagos ficaram praticamente congelados durante o inverno de 2021Lagos ficaram praticamente congelados durante o inverno de 2021 — Foto: Gerson Klaina / Tribuna do Paraná

Para todos do setor, os prejuízos foram muito grandes. Mas nos pesqueiros, os números ganham destaque. Fábio Mori faz um comparativo: um único tambaqui de 30 quilos de peso vivo, que acaba morrendo, tem um custo médio de R$5.500.

Ou seja, para um pesqueiro que cobra R$80 pela taxa de pescaria, ele apenas conseguiria repor o prejuízo de um único peixe com 67,5 pescarias diferentes.

Todos os que trabalham com esse setor, tiveram perdas no inverno. As variações apenas acontecem dependendo do tamanho dos lagos, sua localização e quão fria estava a temperatura da água nos dias mais gelados.

Outro fator que é preciso levar em consideração, é em relação ao estado nutricional dos animais. O zootecnista atenta para a importância dos equipamentos corretos na pesca.

"Os pescadores podem acreditar! Os peixes que tinham mais anzóis no trato intestinal, morreram primeiro durante as baixas temperaturas. Isso mostra o quanto é importante nós utilizarmos o material adequado nas pescarias".

Fábio traz dicas interessantes para saber a saúde dos peixes nessas épocas, podendo causar risco de mortalidade em massa.

Para ele, podem ser alguns dos sintomas de que não estão bem: a perda de apetite do animal, nado próximo à superfície, peixes na entrada de água do lago, peixes avermelhados, com manchas causadas por fungos e com parasitas secundários.

Peixe nadando próximo à superfície não é um bom sinalPeixe nadando próximo à superfície não é um bom sinal — Foto: Fábio Mori

Fábio ainda comenta que, apesar do frio estar indo embora, ano que vem ele estará de volta e é preciso fazer um balanço entre as espécies atrativas para a prática do esporte e o cuidado nos dias mais gelados.

"Esse ano não conseguimos evitar tamanha mortalidade, mas temos ciência de que trabalhamos com espécies intolerantes ao frio e, de tempos em tempos, ocorre um frio mais forte e poderemos perder novamente. Ao mesmo tempo, os pesqueiros precisam ter os redondos e as pirararas para que a pesca esportiva seja atraente", finalizou.

Após esse triste período, diversos proprietários de pesqueiros e trabalhadores do setor, já estão conseguindo se organizar para a compra de novos exemplares.

Agora, com a chegada da primavera, os peixes ficam mais ativos e a pesca esportiva agradece! Então, é hora de aproveitar o momento e torcer para que o inverno de 2022 chegue com mais cautela, menos agressivo e causando menos estragos.

Ou melhor ainda, causando nenhum estrago!


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