Não é sempre que o litoral da Bahia recebe essa visita. As baleias da espécie franca não são comuns na região, mas apareceram na Baía de Todos-os-Santos no final da semana passada. O ser humano, porém, não foi muito educado com a mãe e o filhote visitantes.
Assim que entraram na baía, as duas baleias se enroscaram em grandes redes de pesca, ficando presas. Com os enormes animais, os receios na aproximação e, principalmente, com as dificuldades de se desenroscar a rede, as chances dos dois animais não sobreviverem eram grandes.
Porém, moradores acionaram a Polícia Federal, que deslocou um grupo do Núcleo Especial de Polícia Marítima (Nepom/BA), realizando um grande trabalho e conseguindo resgatar mãe e filhote. Pesquisadores do Instituto Baleia Jubarte também foram até o local para registro de mais informações e pesquisa.
Mãe e filhote de baleia franca foram resgatados pela Polícia Marítima. Foto: Reprodução / Baleiafranca.org.
Segundo os pesquisadores do instituto, o filhote nasceu no próprio estado da Bahia, o que eles consideram um evento bem raro, já que existem apenas cinco exemplares registrados da baleia franca no estado.
O trabalho, porém, não para por aí. De acordo com a Polícia Federal, ainda será realizado um forte monitoramento das baleias, já que elas estão em uma área conhecida por ser a passagem de grandes embarcações, sem contar que elas ainda podem enroscar, novamente, em outras redes de pesca.
Mãe e filhote de baleia ainda serão monitorados pela Polícia Marítima e por pesquisadores. Foto: Divulgação / Guarda Portuária da Bahia.
De acordo com a assessoria, o objetivo é garantir que as baleias tenham energia suficiente para seguir em direção ao mar aberto.
O perigo das redes de pesca e o bycatch
Bycatch é a captura de espécies que não eram o alvo, trazendo desequilíbrios. Foto: Reprodução / WWF.
A utilização de grandes redes de pesca tem gerado preocupações significativas devido aos impactos ambientais adversos.
Essas redes, muitas vezes de dimensões gigantescas, não apenas visam capturar as espécies consideradas “comerciais”, mas também representam uma ameaça direta para uma variedade de vida marinha, incluindo espécies ameaçadas de extinção e outros animais aquáticos.
Um dos principais problemas associados às grandes redes de pesca é a captura incidental, ou o chamado bycatch, termo em inglês para definir as espécies capturadas pelas redes mas que não são a espécie-alvo. Isso pode incluir peixes ameaçados de extinção e animais marinhos, como tartarugas, golfinhos e baleias, como foi o caso na Baía de Todos-os-Santos.
Redes de pesca são um perigo para a sustentabilidade. Foto: Reprodução / Alfapesca.
Essas capturas acidentais afetam as populações dessas espécies e prejudicam o equilíbrio ecológico dos oceanos. A perda de indivíduos dessas espécies pode ter consequências em cadeia, afetando a saúde dos ecossistemas marinhos e comprometendo a biodiversidade.
Além dos impactos diretos sobre a vida nas águas, as grandes redes de pesca também podem causar danos ao fundo marinho, afetando habitats essenciais para várias espécies.
A destruição desses habitats pode resultar na redução de áreas de reprodução e alimentação, agravando ainda mais a situação das espécies vulneráveis.
A baleia franca
Espécie faz migração que impressiona. Foto: Reprodução / Baleiafranca.org.
De acordo com a professora de biologia em Gestão do Conhecimento, Juliana Dias, a baleia franca é um mamífero marinho pertencente ao gênero Eubalaena, que abrange três espécies distintas, cada uma adaptada a um ambiente específico.
A baleia franca austral, reside no hemisfério sul e é a mais numerosa, com uma população estimada em cerca de 7 mil indivíduos.
Essas baleias são animais de grande porte, com cerca de 17 metros de comprimento e seu corpo é predominantemente preto, arredondado, apresentando manchas brancas irregulares no ventre. A camada espessa de gordura em seu corpo ajuda a regular a temperatura.
O formato das calosidades em sua cabeça permanece relativamente constante ao longo da vida, permitindo que cada baleia franca tenha um padrão único que facilita sua identificação individual.
Mãe e filhote de baleia ainda estão na Baía de Todos-os-Santos. Foto: Divulgação / Guarda Portuária da Bahia.
Anualmente, as baleias francas realizam uma migração impressionante das águas da Ilha da Geórgia do Sul e da Península Antártica para o litoral brasileiro, percorrendo cerca de 3 mil quilômetros.
Durante o período reprodutivo, que vai de julho a novembro, é comum avistar essas baleias no litoral brasileiro, particularmente no estado de Santa Catarina.
Esses animais já foram alvo de intensa caça, principalmente pela extração de sua grande camada de gordura, que era transformada em óleo para iluminação. A caça às baleias francas levou a espécie à beira da extinção.
Hoje em dia, o litoral de Santa Catarina abriga uma Área de Proteção Ambiental dedicada à baleia franca, além de institutos que monitoram a espécie para garantir sua conservação e evitar a extinção.
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