Uma iniciativa colocada em prática no município de
Piracicaba, interior de São Paulo, pretende transformar o resíduo do tratamento
de esgoto da cidade em fertilizante orgânico para a agricultura. O objetivo é
zerar ou, pelo menos, diminuir o volume de lodo enviado ao aterro sanitário da
região - aproximadamente 1,2 mil toneladas por mês. A solução, que vem sendo
testada desde o fim de setembro, passa pela compostagem. A técnica estimula a
decomposição de materiais orgânicos para gerar um composto rico em nutrientes
para o solo. O processo leva cerca de 60 dias e também aproveita folhas e
galhos de podas feitas na cidade.
“O processo de compostagem é milenar. Para lodo de
esgoto e lixo urbano é muito usado na Europa e nos Estados Unidos. Aqui no
Brasil, tem uma experiência em Jundiaí [cidade paulista]”, cita a
engenheira agrônoma Edna Bertoncini, pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O projeto, que segue até julho de 2021, foi
viabilizado a partir de um acordo entre governo estadual, Universidade de São Paulo (USP) e concessionária Mirante, responsável pela gestão do sistema de
esgotamento sanitário de Piracicaba. A intenção do grupo é aprovar o composto
junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), mas, para isso, o
produto final deve atender a uma série de critérios. Cumprir essas exigências é
o grande desafio.
Por isso, diariamente, pesquisadores têm
acompanhado a evolução do processo, buscando identificar as melhores formas de
revolvimento e irrigação das pilhas de compostagem. Para garantir a qualidade
do fertilizante, o material tem passado por análises constantes em laboratório.
“A partir do momento em que a gente chegar a uma tecnologia adequada, qual a
melhor forma de irrigação, eles [a concessionária] têm que continuar o
processo”, explica Edna.
Benefícios
ambientais e econômicos
Para o professor Paulo Pavinato, que atua na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz” da USP, a alternativa adotada em Piracicaba está alinhada a essa legislação, já que aposta em uma solução sustentável para um resíduo que deve se tornar cada vez mais volumoso no país caso a meta do governo seja alcançada. “Nossa expectativa é que esse processo seja comprovadamente viável para produção agrícola e que possa ser aplicado em qualquer cidade do país. Havendo interesse de outras cidades e concessionárias, é plenamente expansível para outras regiões”, garante Paulo.
A reciclagem do resíduo orgânico também traz benefícios de ordem econômica. Conforme a concessionária, se a iniciativa alcançar os resultados esperados, o custo com transporte e destinação do lodo ao aterro sanitário da cidade vizinha, que hoje representa 12% dos custos operacionais, cairá para zero. Uma vez aprovado pelo Mapa, o fertilizante pode, inclusive, ser comercializado.
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