Quem teve a oportunidade de pescar esportivamente nos diversos
pontos espalhados pelo Brasil e também fora, com certeza foi orientado por um
experiente guia. Essa importante profissão ligada ao esporte da pesca costuma
ser predominantemente masculina, mas não faltam mulheres que também têm amplo
conhecimento sobre os locais onde vivem e pescam. Pensando em incentivar cada
vez a inserção feminina na profissão de guia, foi criado o projeto Sereias do
Miranda, que iniciou no distrito de Águas do Miranda, no Mato Grosso do Sul.
Tudo começa com a professora Jaqueline Aparecida dos Santos,
que iniciou um curso de Gestão Ambiental pensando em levar para a comunidade
outras formas de geração de renda, sempre voltadas ao turismo consciente. Com o
apoio de um amigo da Fundação de Turismo do Estado, o Bolívar, começaram a
elaborar um plano para mudar aquela região. “Percebi que trazer e mudar a
cultura seria uma batalha. Com o decreto de Cota Zero criado, no início, achávamos
que nosso distrito iria a falência e as pessoas passariam dificuldade. Olhando
em torno, percebi que ali tínhamos uma oportunidade, pois assim iríamos repensar
atitudes e buscar um novo meio de sobrevivência”, conta.
Jaqueline também destaca que o distrito de Águas do Miranda sofre com a prostituição, que foi mais um fator que a fez criar a Associação de Mulheres, a AMA. “Nossas mulheres aqui, desde as crianças, adolescentes e adultas, não têm opção de lazer, não há mercado de trabalho. Então, junto de outras mulheres, começamos a buscar oportunidades. Ainda é tudo muito recente, mas criamos a feira livre há dois anos, onde elas vendem seus produtos. Estamos todas tentando retomar um projeto maravilhoso que aqui já existiu, que é uma fábrica de vassouras e biojóias feitas com garrafas pet”, lembra.
Aí você, leitor, pode perguntar: onde entra a pesca
esportiva? Pois foi num evento do esporte somente para mulheres que Jaqueline
percebeu a grande adesão da comunidade, mas queriam ir além da criação de
grupos femininos de pescaria. “Durante os últimos meses, o Bolívar e eu
conversamos muito, decidindo encarar o desafio de criar o Sereias do Miranda. Seremos
um grupo de mulheres preparadas para atender grupos de outras mulheres, famílias
e crianças que queiram vir pescar e por vezes acham que pescaria não é coisa de
mulher. Nosso diferencial será que nossos guias serão mulheres que trabalham há
muitos anos com a pesca e não tinham campo de trabalho e nem visibilidade”,
destaca citando que muitas pousadas, restaurantes e até casa de iscas que fazem
parte do grupo são gerenciadas por mulheres.
Em fase de organização e planejamento, a ansiedade para que
tudo saia perfeito no atendimento aos grupos já chegou a Jaqueline e nas
participantes. “Vamos passar a tranquilidade de que as pescadoras serão
recebidas por quem sabe e conhece a necessidade de outras mulheres. Garantia de
uma pescaria de sucesso e, claro, com consciência, pois o mais importante é ver
a comunidade agora divulgando o pesque e solte. Vejo também muitas mulheres
aderindo ao esporte da pesca e praticando com frequência, fazendo fotos e
soltando peixes. Isso mostra como lugar de mulher é onde ela quiser”, completa.
O projeto Sereias do Miranda é mais um exemplo claro da pesca esportiva mudando regiões, comportamentos e deixando claro, como sempre foi, que o esporte não possui gênero, idade nem classe social.
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