Projeto Sereias do Miranda incentiva mulheres a se tornarem guias de pesca

A busca é por profissionalizar as moradoras da região pertencente a Bonito

Por Alison Mota - 13/04/2021 em Notícias / Geral - atualizado em 13/04/2021 as 18:15

Quem teve a oportunidade de pescar esportivamente nos diversos pontos espalhados pelo Brasil e também fora, com certeza foi orientado por um experiente guia. Essa importante profissão ligada ao esporte da pesca costuma ser predominantemente masculina, mas não faltam mulheres que também têm amplo conhecimento sobre os locais onde vivem e pescam. Pensando em incentivar cada vez a inserção feminina na profissão de guia, foi criado o projeto Sereias do Miranda, que iniciou no distrito de Águas do Miranda, no Mato Grosso do Sul.

Tudo começa com a professora Jaqueline Aparecida dos Santos, que iniciou um curso de Gestão Ambiental pensando em levar para a comunidade outras formas de geração de renda, sempre voltadas ao turismo consciente. Com o apoio de um amigo da Fundação de Turismo do Estado, o Bolívar, começaram a elaborar um plano para mudar aquela região. “Percebi que trazer e mudar a cultura seria uma batalha. Com o decreto de Cota Zero criado, no início, achávamos que nosso distrito iria a falência e as pessoas passariam dificuldade. Olhando em torno, percebi que ali tínhamos uma oportunidade, pois assim iríamos repensar atitudes e buscar um novo meio de sobrevivência”, conta.

Jaqueline também destaca que o distrito de Águas do Miranda sofre com a prostituição, que foi mais um fator que a fez criar a Associação de Mulheres, a AMA. “Nossas mulheres aqui, desde as crianças, adolescentes e adultas, não têm opção de lazer, não há mercado de trabalho. Então, junto de outras mulheres, começamos a buscar oportunidades. Ainda é tudo muito recente, mas criamos a feira livre há dois anos, onde elas vendem seus produtos. Estamos todas tentando retomar um projeto maravilhoso que aqui já existiu, que é uma fábrica de vassouras e biojóias feitas com garrafas pet”, lembra.

Foto: divulgação

Aí você, leitor, pode perguntar: onde entra a pesca esportiva? Pois foi num evento do esporte somente para mulheres que Jaqueline percebeu a grande adesão da comunidade, mas queriam ir além da criação de grupos femininos de pescaria. “Durante os últimos meses, o Bolívar e eu conversamos muito, decidindo encarar o desafio de criar o Sereias do Miranda. Seremos um grupo de mulheres preparadas para atender grupos de outras mulheres, famílias e crianças que queiram vir pescar e por vezes acham que pescaria não é coisa de mulher. Nosso diferencial será que nossos guias serão mulheres que trabalham há muitos anos com a pesca e não tinham campo de trabalho e nem visibilidade”, destaca citando que muitas pousadas, restaurantes e até casa de iscas que fazem parte do grupo são gerenciadas por mulheres.

Em fase de organização e planejamento, a ansiedade para que tudo saia perfeito no atendimento aos grupos já chegou a Jaqueline e nas participantes. “Vamos passar a tranquilidade de que as pescadoras serão recebidas por quem sabe e conhece a necessidade de outras mulheres. Garantia de uma pescaria de sucesso e, claro, com consciência, pois o mais importante é ver a comunidade agora divulgando o pesque e solte. Vejo também muitas mulheres aderindo ao esporte da pesca e praticando com frequência, fazendo fotos e soltando peixes. Isso mostra como lugar de mulher é onde ela quiser”, completa.

O projeto Sereias do Miranda é mais um exemplo claro da pesca esportiva mudando regiões, comportamentos e deixando claro, como sempre foi, que o esporte não possui gênero, idade nem classe social.

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