Projeto busca qualificar a pesca esportiva no RS

Pesquisa mostra que 55% dos gaúchos tem a traíra como espécie favorita

Por Alison Mota - 23/07/2020 em Notícias / Geral - atualizado em 04/08/2020 as 10:08

Marcel Hastenpflug é zootecnista, professor do Instituto Federal Farroupilha e também é pescador apaixonado pelo esporte. Como coordena o programa de extensão PIRAJEPOI - A Pesca Esportiva como promotora de consciência ambiental, turismo e renda para o Rio Grande do Sul, a partir dessa iniciativa partiu a ideia de um artigo científico intitulado Perfil do Pescador Esportivo do Rio Grande do Sul. O artigo foi criado através da coleta de diversas respostas deixadas em um formulário online, respondido pelos praticantes do esporte.

A partir da coleta desses dados, Hastenpflug traçou ações para serem colocadas em prática no programa, seguindo três vertentes, que são:

1 - Educação ambiental, através de palestras de conscientização sobre a importância da pesca sustentável e promoção de eventos de pesca esportiva incentivando o pesque e solte. 

2 - Turismo, buscando apoio da gestão dos municípios e prestando assessoria para habilitação de empreendimentos de hospedagem e demais serviços aos turistas pescadores, além de profissionalização de Condutores de Turismo de Pesca. 

3 - Promoção de renda, dando assessoria técnica para piscicultores produzirem iscas vivas e ribeirinhos atuarem como guias de turismo de pesca, entre outras ações.

Foto: Thiago Cruz

Foto: Thiago Cruz

Em um primeiro momento as ações serão realizadas na bacia do rio Ibicuí, nos municípios de Alegrete e Manoel Viana. A partir disso, se houver sucesso na realização do projeto, será expandido para outros municípios do Estado. Para melhor compreensão, o Jornalismo da Fish TV fez algumas perguntas ao professor e você confere abaixo a entrevista.

Fish TV - Como vê a importância de se traçar um perfil dos pescadores no RS?

Marcel - Tendo a ideia do programa de extensão em mente, senti a necessidade de traçar o perfil do pescador amador para poder auxiliar na tomada de decisões para desenvolvimento das ações do projeto. Hoje, com o perfil do pescador amador diagnosticado, tenho mais possibilidades de focar em ações assertivas de impacto positivo a médio e longo prazo.

Fish TV - Quando cita as três vertentes pelas quais passarão as ações do projeto, há destaque para o turismo. Qual a melhor maneira de ampliar o segmento turístico de pesca esportiva no Estado?

Marcel - Sinto um grande "amadorismo" no turismo de pesca do nosso Estado. Eu morava em Mato Grosso do Sul até setembro do ano passado, onde compunha a diretoria de uma Associação de Pescadores Esportivos. Lá naquele Estado o turismo de pesca é consolidado. Aqui sinto muito a falta de organização da cadeia turística, sendo que o turismo cresce veementemente e dentre os ramos do turismo, o turismo de pesca é o que mais cresce. Além de ser um importante meio de renda direta e indiretamente para vários ramos de comércio e prestação de serviços. Como gestor, como professor e como pescador, sinto que posso e devo contribuir com esta cadeia, por enquanto, pelo menos na região em que estou inserido.

Fish TV - Mesmo com a adesão ao pesque e solte, ainda sente muita resistência à essa prática? Se sim, as ações de conscientização ambiental podem auxiliar na mudança de pensamento?

Marcel - A pesca predatória é muito arraigada em nosso Estado. É uma cultura que passa de pai pra filho, eu mesmo me criei pescando de rede e espinhel. No entanto, o contato com a natureza de uma forma mais íntima, proporcionada pelo prazer da pesca, auxilia bastante. O pescador passa a se sentir parte do ecossistema que está inserido. Só quem já soltou um peixe e viu ele nadando vigorosamente em retorno ao seu habitat natural sabe o que estou falando. Pescar é de uma emoção indescritível, mas pescar com o mínimo de impacto possível é ainda mais gratificante.

Fish TV – Na sua opinião, em um primeiro momento, existe espécie-alvo para ser trabalhada na ascensão do esporte no Estado?

Marcel - No perfil que tracei na pesquisa já finalizada, obtive o seguinte resultado: 55% dos pescadores amadores do Rio Grande do Sul tem na traíra (Hoplias spp.) o seu peixe preferido de pesca. Em segundo lugar vem o dourado (Salminus brasiliensis), com 15% da preferência, e em terceiro a piava (8%). Sendo assim, o foco deverá ser nestas três espécies. A traíra, o foco será mais na linha de eventos de pesca e ações voltadas ao público juvenil, para auxílio na criação de uma cultura conservacionista. O dourado, peixe já protegido por lei em nosso Estado, terá foco mais de conscientização da necessidade de manutenção da sua preservação. Já as espécies de piava, um incentivo ao pesque-solte, já que se tratam de peixes bastante esportivos, no entanto, muitos nem sabem o prazer da sua fisgada, pois estão no rol das espécies mais visadas para captura predatória por redes.

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