Para quem ama a pesca esportiva ou, simplesmente, a natureza e todo o seu esplendor, saber mais a respeito dos peixes é algo que temos sempre vontade de entender mais e mais.
E é com esse intuito que acontece, pela 24ª vez, o EBI, Encontro Brasileiro de Ictiologia. Antes de tudo, é preciso saber o que ele significa: ictio significa peixe e logia é estudo, ou seja, todo e qualquer estudo referente aos peixes, está dentro deste ramo.
Com isso, o EBI é o maior encontro de pesquisadores e estudiosos de peixes da América do Sul. O Encontro vem desde a década de 80, mas há quatro anos não acontecia, devido à pandemia do Coronavírus.
Agora, em 2022, finalmente os participantes vão poder se encontrar de forma presencial. Entre os dias 18 e 23 de Setembro, no Hotel Wish Serrano, em Gramado-RS acontece mais uma edição do evento.
De acordo com a presidente do EBI, Lisiane Hahn, os participantes estão com sede para se reencontrar, trocar ideias e trazer os resultados mais recentes das pesquisas com peixes. Os pesquisadores de peixes, até a década de 80, se encontravam em um Congresso Brasileiro de Zoologia, que abrange todos os animais.
A partir daí, uma parte desse congresso era pra discutir peixes, mas ao passar do tempo, muitas pessoas passaram a se interessar e o publico de ictiólogos, numero de pesquisadores e estudantes de peixes começou a aumentar tanto que ficou muito grande pro evento de zoologia.
Assim, a Sociedade Brasileira de Ictiologia, muito conceituada e histórica, que pesquisa peixes e agrega esses pescadores de peixes, começou a promover os Encontros Brasileiros de Ictiologia.
A última edição, que aconteceu em Belém-PA, teve 1.400 pessoas de público, agregando muitas interessados. Vai ser a primeira vez, em 20 anos, que o congresso volta para o Rio Grande do Sul.
Mas essa edição terá algo de especial: o tema do encontro é Conexão de Conhecimentos, com uma linha dentro do evento só para discutir a pesca esportiva.
Ou seja, o EBI contará com a presença de pescadores esportivos que discutirão com pesquisadores, estudantes e pessoas da indústria. Será debatido, por exemplo, as melhores práticas esportivas, como conciliar o pensamento científico com a pesca, como aplicar o conhecimento que os pesquisadores obtém em suas pesquisas para desenvolvimento da atividade e preservação dos peixes.
O encontro é de peixes, tanto de água doce, quanto de água salgada, com pesquisadores falando sobre peixes de recifes profundos, abordando que peixes ocorrem nesses ambientes, pesquisadores falando sobre a divulgação da ciência e como se divulga as pesquisas de ictiologia para o grande público.
“Pesquisadores vão falar, também, sobre os impactos de usinas hidrelétricas sobre os peixes, sobre os órgãos governamentais, em discussão direta com o público leigo, conversando a respeito de portarias de pesca… Tudo o que se imaginar sobre peixes, vai ser discutido no EBI. O conhecimento nunca é de mão única, ele nunca sai de uma pessoa e vai para a outra, diretamente. A gente sempre troca conhecimentos e, quem trabalha com peixes, sabe muito bem disso”, comenta Lisiane.
Ela ainda diz que o EBI trabalha muito com os pescadores, barqueiros, ribeirinhos, com pessoas que conhecem muito sobre os peixes e fazem a troca desse conhecimento. Para a presidente do Encontro, a pesca esportiva é uma das atividade de lazer mais importantes, tanto pra economia, quanto para a conservação da natureza.
E ela não pode, segundo Lisiane, estar dissociada da pesquisa cientifica do peixe, pois o peixe é o elemento agregador. Então, trazer os diferentes setores da sociedades pra discutir como melhorar a atividade, como conservar mais os peixes para que, tanto pescador quanto pesquisador, tenham seus objetos de trabalho e de lazer sempre ali, é de extrema importância.
“Isso tudo é para que nossos filhos e netos possam ver muitos peixes também, possam praticar a pesca esportiva… Então, é muito importante que esses diferentes setores sejam discutidos em conjunto”, comenta.
O EBI vai contar com a presença de grandes nomes do ramo, com anos e anos de experiencia. Por exemplo, participará do Encontro, o curador de Ictiologia da Califórnia Academy of Sciences, Luiz Alves Rocha.
Luiz foi laureado dos prêmios Rolex 2021, por planejar a exploração dos recifes de corais do Oceano Índico, a fim de encontrar e descrever novas espécies, bem como defender sua proteção. O curador é paraibano e, hoje, mora em São Francisco, Califórnia-EUA.
Quando terminou o mestrado, Luiz queria muito trabalhar com genética de peixes, mas não tinha ninguém, no final da década de 90, trabalhando no Brasil com sequenciamento genético. Na época, era uma tecnologia bastante nova, então acabou se mudando para os Estados Unidos pra fazer o doutorado na Universidade da Flórida. Para Luiz, o EBI é um evento de extrema importância, que ele tem ido desde o início.
“O primeiro que eu fui foi em São Carlos-SP em 1996. Fui em uns 6 ou 7. A expectativa pra esse evento em particular está muito grande, pois faz quatro anos que a gente não se encontra”, comentou Luiz.
Ele diz que, em termos de pesca esportiva, uma coisa que sempre acontece no EBI é o encontro com pessoas de diferentes áreas, por exemplo. Luiz tem foco mais em peixe marinho e com genética e biogeografia, que é a distribuição geográfica das especies.
Mas o evento terá outros especialistas que trabalham com peixes de água doce, que trabalham com biologia reprodutiva de peixes. Então, quando acontece o encontro, os pesquisadores acabam pensando em projetos científicos que uma pessoa só não conseguiria pensar.
“Nos encontros, a gente sempre acaba tendo ideias para pesquisas científicas que não havíamos pensado antes. Várias delas tem ramificação direta na preservação de peixes e na pesca esportiva”, comentou.
O especialista reforçou que ninguém quer acabar com as espécies de peixes e a melhor forma de se entender, realmente, como manter a espécie em bom estado e continuar pescando-a por bastante tempo, é sabendo tudo a respeito de sua biologia, aplicando esses dados para projetos de conservação.
Luiz ressalta que, apesar da ictiologia ser um estudo que foca bastante em peixes, não tem como entender o que acontece com eles sem entender o que acontece no ambiente em que eles vivem.
Por exemplo, no seu caso, ele tem que entender bastante a ecologia do recife de coral em si, e não somente dos peixes, pra poder focar mais na conservação deles.
“Uma coisa que acontece bastante nos recifes de corais hoje em dia, por exemplo, é o branqueamento de coral, por causa do aquecimento das águas. As águas marinhas quando aquecem demais, os corais ficam muito estressados e expelem uma alga biótica que vive dentro deles. Essa alga é o que dá cor pra eles e eles branqueiam. Quando os corais morrem, obviamente, o ambiente em que os peixes vivem se danifica eles não conseguem viver mais lá. Por isso que a gente precisa entender o ambiente em que os peixes vivem…”, disse Luiz.
Para ele, a maior oportunidade de colaboração entre pesca esportiva e ictiólogos é a conservação de peixes. Onde vive, nos EUA, existem varias áreas de preservação de peixes criadas por caçadores, apesar de parecer contraditório. Isso se deve pois todos sabem que, se você destruir o ambiente ou caçar o animal demais, aquela espécie vai acabar.
Para isso, de acordo com Luiz, é preciso unir as forcas entre a pesca esportiva, cientistas e conservacionistas pra conseguir fazer o que todos querem: populações sadias de peixes, seja pra estudar, pescar, para ver ou para manter a beleza da região.
“Ninguém quer que, daqui 20 anos, não exista mais aquele peixe… E, nesse sentido, o apoio da comunidade da pesca esportiva é essencial! Eu, particularmente, queria convidar a todos que trabalham com pesca esportiva para ir até o EBI. Se você está acostumado a pescar, você vai descobrir muita coisa a respeito do peixe. Vai ser muito interessante, já que a nossa intenção é a mesma: ter peixes saudáveis!”, finalizou.
Outro nome muito importante do ramo é a bióloga e analista ambiental, Carla Natacha Marcolino Polaz, que há 15 anos trabalha como analista ambiental no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e ocupa a presidência da Sociedade Brasileira de Ictiologia (SBI) desde junho de 2021. Carla trabalha com conservação de peixes, especialmente aqueles ameaçados de extinção.
Para ela, a expectativa do encontro é muito grande, já que estão preparando esse evento há anos. Segundo ela, com muito carinho, forte dedicação e com as saudades dos amigos e colegas ictiólogos só aumentando.
“O evento de setembro promoverá a troca de informações e experiências profissionais que estão acumuladas desde a última edição, em 2019. Além disso, muitos estudantes ingressaram na Ictiologia nos últimos anos e esta será uma oportunidade de confraternizar com os ictiólogos e ictiólogas mais experientes. A Ictiologia estuda, sim, os peixes, mas não é só isso. Ela aborda não só aspectos da história natural e evolutiva dessas espécies, mas de todas as relações que são estabelecidas entre os muitos grupos de espécies aquáticas e terrestres que interagem com os peixes e também das interações dos peixes com o ambiente habitado, sejam os oceanos, os estuários, os rios, os lagos, as poças”, comenta Carla.
Ela ainda diz que a pesca é também tema da Ictiologia na medida em que explora a interação dos peixes com as populações humanas, nas suas diversas modalidades, inclusive a pesca esportiva.
Carla comenta que o EBI é o local e o momento propício de troca de experiências, e a Fish TV, sendo um veiculo de divulgação e comunicação que alcança um grande público, pode ajudar a traduzir muitos conhecimentos acadêmicos úteis para uma linguagem mais acessível e, dessa forma, contribuir para qualificar os atores da cadeia da pesca esportiva.
“Meu convite é no sentido de aderirem ao evento. Teremos muitas atividades acadêmicas, como é esperado de um evento científico, mas teremos também atividades técnicas, mini-cursos, palestras de divulgação e atividades na rua, que são mais palatáveis para o público não-acadêmico. Por isso, todas as pessoas que se interessam por peixes podem participar!”, convidou.
A sessão de abertura vai ser no domingo, no final do dia, no dia 18 de setembro e durante toda a semana, de segunda à sexta, haverão atividades cientificas, como mesas redondas, workshops e simpósios.
O EBI recebeu um grande volume de atividades, como as atividades de conexão com o publico em geral, em que os pesquisadores vão reagir com o público de Gramado-RS, com turistas, com a população em locais distribuídos na cidades.
Lisiane diz que o EBI vai contar exposição de fotografias na Rua Coberta e ter pesquisadores respondendo às perguntas do público, como o maior especialista de tubarão circulando na Rua Coberta, respondendo as perguntas dos interessados.
Além de ter uma interação muito grande com as escolas da região, que vão participar das atividades da programação cientifica, com os pesquisadores indo palestrar nessas escolas. O EBI é uma semana de integração e conexão dos diferentes públicos, com foco nos peixes.
O programa Fish TV News estará presente, cobrindo todo o evento que tem gerado tanta expectativa. Para participar das atividades da programação cientifica do EBI é preciso se inscrever no evento através do site www.ebi2022.com.br, no link inscreva-se já!
Lá, a pessoa poder se inscrever e participar de todas as atividades do evento, palestras, mesas redondas e workshops.
Porém, também é possível participar das atividades que tiverem acontecendo nas ruas de Gramado-RS durante o Encontro. Por isso, quem for visitar a cidade ou passear pelas ruas, pode sentir a atmosfera do EBI.
Quem tiver empresa e trabalham nesse ramo, também pode participar do EBI através de patrocínio e apoio. Lisiane diz que o EBI terá área de exposição com estandes de empresas de diferentes segmentos, associados tanto a produtos à pesquisa com produtos de aventura, turismo outdoor, etc.
para comentar