A área da Ictiologia comemora o sucesso do seu maior evento. Na semana passada, aconteceu a 24ª edição do Encontro Brasileiro de Ictiologia, no hotel Wish Serrano, na Serra Gaúcha, em Gramado-RS.
Foi quase uma semana repleta de palestras, simpósios, mesas redondas, workshops e todas as atividades científicas imagináveis para um evento desse tamanho. Com o tema “Conexão de Conhecimentos”, pesquisadores, estudiosos, alunos, professores e curiosos puderam curtir todos os temas a respeito do estudo dos peixes.
O evento desse ano teve ações inéditas e muito interessantes: uma troca de conhecimentos do EBI com o próprio público de Gramado-RS, como turistas e estudantes das escolas locais.
O Encontro Brasileiro de Ictiologia é uma semana de integração e conexão dos diferentes públicos, com foco nos peixes, que acontece desde a década de 80, mas não pôde acontecer durante quatro anos, devido à pandemia da Covid-19. Depois de tanta espera, esse ano, finalmente, todos os participantes puderam se reencontrar de forma presencial.
Com mais de 600 participantes, o 24º EBI contou com algo muito especial: uma linha dentro do evento só para discutir a pesca esportiva!
Grandes nomes da Ictiologia estiveram presentes no EBI 2022, como o curador de Ictiologia da Califórnia Academy of Sciences, Luiz Alves Rocha, laureado dos prêmios Rolex 2021, por planejar a exploração dos recifes de corais do Oceano Índico, a fim de encontrar e descrever novas espécies, bem como defender sua proteção.
O EBI contou com várias atividades. Algumas delas se repetiram em alguns dias e, outras, tiveram o seu nome oficial em inglês, devido ao palestrante ser estrangeiro, afinal, o encontro reuniu pesquisadores de todos os cantos do planeta. Veja as atrações.
O evento já começou com uma palestra de grande tema: a avaliação do risco de extinção das espécies de peixes do Brasil. No mesmo dia, também aconteceram os eventos que abordaram a diversidade de ‘peixes' continentais neotropicais; teorias e técnicas para conservação e gestão participativa de recursos pesqueiros; filogeografia e as hipóteses e métodos em peixes neotropicais; biogeografia histórica de peixes neotropicais de água doce; operação e manutenção de usinas hidrelétricas e os impactos sobre a ictiofauna; habitat físico em riachos; Telemetria PIT para monitoramento de peixes e a palestra sobre biomarcadores fisiológicos como ferramentas aplicadas à conservação de tubarões e raias.
Na segunda-feira, após a Conferência Magna, os assuntos abordados nas palestras foram: metodologias e tecnologias de análise anatômica e histológica; Historical Ecology of Neotropical Freshwater Fishes, conservação de peixes de água doce neotropicais; biologia e conservação dos bagres-marinhos; UCE Phylogenomics of Ostariophysi; peixes da mata atlântica e o poder da boa narrativa para divulgar os peixes.
O terceiro dia de evento continuou abordando temos importantíssimos para a área, como a diversidade funcional em peixes; Historical Ecology of Neotropical Freshwater Fishes; manejo e conservação de peixes hermafroditas e otólitos e estruturas calcificadas como ferramentas da ictiologia.
A quarta-feira teve seu início com uma palestra que lotou o salão principal do Wish Serrano, com um dos temas mais esperados: ecologia, taxonomia, e conservação de peixes em recifes profundos, com o Dr. Luiz Rocha, que apresentamos anteriormente. Luiz contou a respeito da sua experiência e tirou dúvidas com os presentes, além de participar no dia seguinte de um bate-papo no Largo da Borges, famosa galeria no centro de Gramado-RS onde conversou com o público e contou mais sobre o tema.
Ainda na quarta-feira, os participantes puderam participar de atividades que abordaram a possibilidade de conciliar o turismo de pesca e a prática do pesque e solte com a conservação de peixes. Um dos palestrantes é o biólogo muito conhecido e respeitado, apresentador do programa Biopesca da Fish TV, Lawrence Ikeda.
No mesmo dia, foram abordados temas como telemetria na pesquisa; ecologia de riachos, aplicações do conhecimento dos pescadores na ecologia e conservação de peixes; mais uma palestra com o tema Historical Ecology of Neotropical Freshwater Fishes; Advances in Phylogenetic and Evolutionary Studies; novamente, o poder da boa narrativa para divulgar os peixes; o uso de modelos espaço-temporais na biogeografia de peixes; biologia e conservação dos bagres-marinhos; aquicultura com espécies exóticas, além do Ill Simpósio de Comportamento de Peixes.
O penúltimo dia teve como abertura uma conferência magna sobre a avaliação crítica do estado de conservação de tubarões e raias do Brasil. Os temas abordados depois foram a respeito de peixes do pampa; novamente ecologia de riachos; divulgação científica; biomonitoramento 2.0, conservação e uso das várzeas amazônicas; a ictiofauna em estuários tropicais; conservação e manejo de peixes em ilhas oceânicas brasileiras; a avaliação dos impactos de empreendimentos hidrelétricos; biologia e conservação dos bagres-marinhos, novamente; peixes extremos e as técnicas e desafios de se estudar peixes em ambientes remotos e profundos; Advances in Phylogenetic and Evolutionary Studies of Neotropical Cichlids; parâmetros de qualidade da água na piscicultura continental; e a relação sobre cidades e peixes.
A sexta-feira e último dia de palestras começou retomando alguns temas já debatidos no 24º EBI, como a conservação e o manejo de peixes; ictiologia inclusiva; Paraguaçu da nascente à Foz; avaliação dos impactos de empreendimentos hidrelétricos; peixes extremos e biologia e conservação dos bagres-marinhos.
Porém, apesar de diversas palestras, o encontro teve inúmeras atividades bem práticas. Na quinta-feira começou a a acontecer, na Praça Major Nicoletti, no centro de Gramado-RS, uma exposição de peixes.
A atração permitiu os participantes de tocar nas amostras de animais, manusear e enxergar através do microscópio pequenas larvas destes peixes e conhecer a anatomia dos seres marinhos.
Também teve palestra sobre espécies ameaçadas de extinção para os adolescentes do ensino médio do Colégio Santos Domunt, no centro da cidade, com Carla Natacha Marcolino Polaz, que há 15 anos trabalha como analista ambiental no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e ocupa a presidência da Sociedade Brasileira de Ictiologia (SBI) desde junho de 2021.
Carla trabalha com conservação de peixes, especialmente aqueles ameaçados de extinção. Para ela, o EBI é o local perfeito e o momento propício de troca de experiências. Para ela, as pessoas são naturalmente interessadas pela área e trazer isso para os jovens é uma forma de expandir, cada vez mais, esse conhecimento tão importante para todos.
“Se a gente ficar enclausurado nos nossos laboratórios e escritórios, essa interação não vai acontecer. Então, é responsabilidade dos pesquisadores e servidores públicos oferecer esse tipo de atividade. Na palestra no colégio Santos Dumont, todos os alunos estavam interessados e curiosos… A gente poder provocar essa discussão é maravilhoso! Não tenham dúvidas que eles vão sempre participar e interagir”, comentou Carla.
O sucesso do evento foi tão grande que já tem gente fazendo planos para 2025! Durante a própria 24ª edição do Encontro Brasileiro de Ictiologia, foi votado o local para ser o palco da edição de número 25 e a cidade escolhida foi Palmas, no Tocantins. Para Carla, a capital tocantinense é o lugar perfeito para o próximo encontro, visto que é repleto de atrações e cidade muito importante para o ramo.
“A gente já está com saudades. Aqui em Gramado foi um evento emblemático, já que foi o primeiro após pandemia. Ficamos muito felizes que deu tudo certo, mas já estamos de olho no início de 2025, onde Palmas, no Tocantins, vai receber o EBI. Podem se programar e se preparar, Palmas tem muitas atrações incríveis”, convidou.
Para a presidente desta edição, Lisiane Hahn o evento foi um sucesso absoluto. Com muitos alunos de graduação e de pós-graduação presentes, Lisiane acha que essa é uma oportunidade única. Algo que ficará para sempre na memória dos biólogos iniciantes e experientes.
“É a chance que esses alunos têm de, por exemplo, se encontrarem com a sua referência bibliográfica, com aquele pesquisador que eles conhecem por artigos científicos, por livros… São pesquisadores que estão aqui e que servem de inspiração para todos que participaram do evento”, comentou Lisiane.
Sobre a 25ª edição, Lisiane já faz o convite e aposta em um evento ainda maior do que o de 2022. Com o sucesso da edição deste ano e com o crescimento desta área em constante evolução, ela acredita que em 2025 o Encontro Brasileiro de Ictiologia baterá todos os recordes.
“Em janeiro de 2025 lá em Palmas, no Tocantins, estaremos esperando todos novamente! Um clima um pouco diferente do friozinho de Gramado, mas uma cidade maravilhosa e que tem total importância para a nossa área. Todos estão convidados! Será mais um evento de sucesso para a área da ictiologia”, disse.
O programa Fish TV News, comandado pelo jornalista Marcelo Telles, realizou a cobertura do evento e você irá acompanhar, em breve, tudo o que aconteceu no 24º EBI, diretamente da tela da Fish TV.
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